sábado, 6 de agosto de 2011

À Praça

À Iara Assessú

Certa vez, eu disse:
Não me lembro qual vez
Sequer lembro o que disse
Pode ter sido há um mês
Ter dito a boca de Eunice
Sei que falei o que na hora li
Lira, litro, lívido, enciclopédia
Tudo pedia para que eu dissesse
Barulho, zoada, onomatopéia
Sem hematoma na língua, eu disse

O que eu disse, desapareceu
Foi tomar café no Café Nice
Foi sentir saudades no Liceu
Listou, legou, lidou, amanheceu
Mas o que eu disse certa vez
Não foi em árabe ou libanês
Foi o que eu tive n’aquela hora
Uma casa, um elefante, uma amora
Um sorriso elegante à mostra
Não lembro. Por dentro ou por fora

Por hora, antes, depois, não sei
Eu sei é que no ato de dizer
Senti que era tudo para ver
Ave, veia, vela, avelã, valeu o dia!
Meus deuses ajudaram na poesia
Certa vez eu disse o que foi de fato
Na cidade, como pelo mato
Lenha, cuia, curva, senha, sorver
Fui ao passeio na praça com você
Foi isso que eu disse...

Geslaney Brito

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