Genealogia
Queria ter outra árvore
dessa em meu quintal
Se não no meu quintal, que
fosse no teu
Ou que fosse no mesmo
caminho da tua casa
Ou que fosse na praça mais
próxima dali
Interessa saber é que fosse
uma árvore
Interessa saber é que
estivesse próxima
E que atrapalhasse o
progresso
Que agasalhasse com suas
folhagens
Todas as chuvas, todos
dezembros, todo solzinho
Todos os pensamentos e
ninhos, todo avozinho
Queria mesmo era que fosse
de fruta e tronco
Podia ser estro, podia ser
grito, podia ser canto
Podia ser um dedilhado de
cordas trocadas
Mas que tivesse galhos,
gritos, crivos, sombras
Mas que tivesse falha,
gruta, graça, crianças
E que arremessasse o pouco
afeto
Que se apresentasse mesmo,
como árvore
Todas as folhas, todos os
Maios, toda florada
Toda meada, toda solidão em
meias palavras
Queria mesmo era nos dedicar
qualquer sombra
Que fosse do tempo em que havia
sorriso
Se não dos quintais, que
fosse da rua que fosse
Se não da rua, que fosse da
praça que fosse
Mas que tivesse árvore,
gente, gomos e banjos
Mas que tivesse vozes,
coros, cores, arpejos
E que arredasse daqui pra
longe
E que jogasse pra longe o
aziago
Aquele de coisa pronta e
acabada que nos forçam
Aquele que de tanta falta de
raiz, não se reinventa
Queria a pimenta que cala e
canta quando preciso
A amêndoa de caldo na boca e
o fundo do mantra
E mais os quintais
coletivos, com cara de praça e pipoca
Geslaney Brito