quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Venda feita de prosa


Ao amigo Reginaldo Bello
E eu quero falar uma lôa
Depois, tomar uma pinga
Jogar a parte do santo
Fazer parte do samba
Do que se faz no balcão
Fazer a careta de sempre
Imitar o grito da feira
Inventar uma letra qualquer
Entender o processo da lua
O porquê que nascemos aqui
Nessa ciranda das horas
Que levantam o pó da esquina
E revelam o peso do ombro
No tempo que roda a ciranda
Eu quero cantar um aboio
De conduzir minha cabeça
Largar uma dose de rima
Sem rimar palavra com outra
Quero dançar num abraço
O "mais grande" do mundo
Que os amigos descrevem
Quando nos presenteiam
Quando nos encanoam
Dos beirais São Francisco
Dos sombrais das varandas
Das palhas e palhas do sol
Com poesia de saudar e salvar
Um brinde à barca dos homens
Quero beber desses dias
Que se passam nos balcões
Das vendinhas de duas portas
Dessas que nos realinham
No som da garrafa e da goela
E nas coisas dependuradas
Lá onde as curvas ventilam
E recompõem nossa força
Pra nossa dor não doer
Mais que a que sentimos
Quero brindar ao Pessoa
Lá pelas frestas da arte
Essa que aproxima de nós
Na medida em que deixamos
A arte descer goela abaixo
Feito rio, trabalho, fumaça
Feito essa graça de todo dia...
De entender os desenhos
Que as nuvens descrevem
Enquanto aguardamos a noite
Pra inventar alguma canção
De cinqüenta frases e pedras


Geslaney Brito



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